Um guia para uma vida piedosa e moral
Natal. Época em que relembramos o nascimento de Jesus, o Mestre Nazareno, nosso guia.
Lembramo-nos dos ensinamentos de Jesus com mais propriedade nessa época.
Um dos mais belos ensinamentos do Cristo está em O Sermão da Montanha, registrado no Evangelho de Mateus, capítulos 5 a 7, e também em Lucas, capítulo 6.
É uma das passagens mais bonitas do Novo Testamento e uma parte fundamental do ministério de Jesus Cristo. Contém uma série de ensinamentos e princípios morais que têm influenciado profundamente a ética e a espiritualidade cristã ao longo dos séculos.
O Sermão da Montanha é um conjunto de instruções e bênçãos proferidas por Jesus durante a sua passagem na região da Galileia. Ele é considerado um guia para uma vida piedosa e moral, abordando questões como a humildade, a misericórdia, a justiça e o amor ao próximo. É um chamado à pureza e à retidão de coração.
No capítulo 5, em Mateus, nos encontramos as Bem-Aventuranças, que é a parte inicial do Sermão da Montanha.
As bem-aventuranças constituem um extraordinário cântico de amor e de compaixão dirigido, em especial, aos sofredores, oferecendo-lhes a esperança de dias melhores. O homem encontra nas bem-aventuranças uma rota de redenção espiritual.
Jesus se dirige a uma multidão onde estão os cansados e os oprimidos pelo peso das provações. Ele define através das bem-aventuranças um estado de tranqüilidade, compreensão, paciência, equilíbrio e serenidade íntima que devemos cultivar frente às mais diversas situações da vida.
Para assimilar o sentido exato das bem-aventuranças do Evangelho é preciso compreender os conceitos de imortalidade da alma, da reencarnação e da Lei de Causa e Efeito. Somente com esse conhecimento podemos conceber como bem-aventurado quem está sofrendo hoje ou tendo fome e sede de justiça.
As bem-aventuranças não se limitam a esperanças e consolações futuras, mas representam uma realidade que se refletirá no íntimo de cada um tão logo nos identifiquemos com a humildade, a mansidão, a misericórdia, a brandura, a bondade, etc.
A verdadeira bem-aventurança é a integração do Espírito com o Criador. Quem a alcança reflete a Luz e o Amor do Pai Eterno e, pela exemplificação do amor ao próximo, terá o seu tesouro acumulado no Reino dos Céus.
As bem-aventuranças - Mateus 5: 1-12
1 E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
2 E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
3 Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
4 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
10 Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
12 Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Compreendendo as Bem-Aventuranças
E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
Aquele que deseja ajudar necessita, inevitavelmente, elevar-se. Elevação definida por segurança e autoridade, sem perda da humildade. Subir ao monte indica o esforço necessário em saber colocar-se acima com humildade para que seja possível prestar auxílio e esclarecer, levando consolo, com adequação ao nível de entendimento daqueles que necessitam de auxílio, esclarecimento e consolo.
O fato de Jesus assentar proporciona um ajuste vibracional estabelecendo uma melhor sintonia com aqueles que ali estavam ouvindo.
E, abrindo a boca, os ensinava, dizendo:
Considerando que a boca é o instrumento de manifestação da palavra, e a palavra é a manifestação do sentimento e do pensamento, os ensinos de Jesus derramavam amor e profundas vibrações de consolação à multidão, estimulando naqueles que se mantinham sintonizados com seus ensinamentos, a necessidade de estudo e trabalho. A palavra do Cristo envolvia e tocava, de forma singular, aqueles que já se encontravam predispostos às mudanças em prol de sua própria melhoria espiritual.
A palavra tanto pode iluminar, convencer, abençoar, ensinar, esclarecer e educar, pois é o mais importante veículo de comunicação educativa de que dispomos, como também pode ser utilizada para denegrir, caluniar, ironizar, amaldiçoar. A palavra tem o poder de penetrar em nosso íntimo, no recesso de nossa consciência. Por isso mesmo, a palavra do Cristo, que nada deixou escrito, ainda hoje envolve nossos corações e mentes, pois, como expressão da Verdade, não há poder que a detenha e nem mesmo força capaz de neutralizá-la. Ela permanece conosco, conforme Ele mesmo nos disse: Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão - Mateus 24:35
Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino dos céus;
Bem-aventurado, sob o aspecto espiritual, significa feliz. Não significa falta de inteligência.
Os pobres de espírito são os humildes, os que não tem orgulho, que não se envaidecem com o que sabem e que não exibem o que têm. São aqueles que reconhecem a sua miséria espiritual e a sua pobreza total diante de Deus, pois sabe que nada possuí, tudo é concessão da Providência Divina. São aqueles que possuem simplicidade de coração e humildade espiritual.
A humildade é colocada por Jesus na categoria das virtudes que aproximam os homens de Deus e o orgulho é colocado na categoria dos vícios que afastam a criatura do Criador. A humildade é um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra ele.
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Os bem-aventurados que choram são aqueles que derramam lágrimas compreendendo porque sofrem e não como manifestação de desespero ou revolta.
Podemos classificar o sofrimento do Espírito como a dor-realidade e o tormento físico, de qualquer natureza, como a dor-ilusão. Em verdade, toda dor física colima o despertar da alma para os seus grandiosos deveres, seja como expressão expiatória, como consequência dos abusos humanos, ou como advertência da natureza material ao dono de um organismo. Mas, toda dor física é um fenômeno, enquanto que a dor moral é uma essência. Daí a razão porque a primeira vem e passa, ainda que se faça acompanhar das transições de morte dos órgãos materiais, e só a dor espiritual é bastante grande e profunda para promover o luminoso trabalho do aperfeiçoamento e da redenção. - Chico Xavier por Emmanuel, livro O Consolador
Necessário é compreender que a dor física passa, embora seja despertador da consciência, e que a dor moral exige transformação e renovação íntima para ser curada.
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Mansidão não significa passividade nem mesmo apatia. Tomar a mansidão por passividade será diminuir a lucidez, a inteligência e a beleza da mensagem do Evangelho do Cristo.
Mansos são os que abrem o coração às claridades espirituais, são os que atendem aos chamamentos da mansuetude, ou seja, aquele que compreende a necessidade de ser suave e pacífico no trabalho incessante do bem, abrindo mão de padrões personalístico em favor da doação de valores como a brandura, a moderação, a afabilidade e a paciência. Manso é aquele que não cede ao impulso da violência, da cólera e da ira no trato com o semelhante.
A promessa de que os mansos herdarão a terra significa que recebemos, como legado da bondade do Pai Celestial, a vivência neste planeta para desfrutar tanto dos benefícios materiais como espirituais. À medida que vamos evoluindo em nossa jornada, por força do aprendizado espiritual, passamos a compreender que a simplicidade, o altruísmo, o desapego são ferramentas para alcançarmos a verdadeira felicidade.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos;
Sabemos que a lei dos homens alcança e pune certas faltas. Porém, não atinge todas as faltas. A Lei de Deus alcança todas as faltas, abrangendo até mesmo a intenção de se desviar do caminho reto.
Sabemos ainda que a lei de causa e efeito traz angústias, dores e frustrações àqueles que não se ajustam ao bem. No cenário reencarnatório, os que têm fome e sede de justiça surgem como os antigos infratores da lei de Deus, que, equivocados nas suas experiências passadas, renascem oprimidos, cansados, famintos e sedentos da justiça divina a fim de que possam reajustar a sua caminhada evolutiva.
O sofrimento que a criatura experimenta permite que ela vivencie a experiência da dor de modo a sentir a diferença entre o bem e o mal, fazendo-a compreender a necessidade de se aprimorar para que possa, assim, ter um futuro melhor.
O clamor dos famintos e sedentos por justiça tem origem no anseio por uma vida feliz, embora, nem sempre sejam merecedores da felicidade almejada imediatamente. Nessa perspectiva, o entendimento da reencarnação é fundamental para conseguirmos equacionar as causas do sofrimento, a compreensão do equivoco e o entendimento da necessidade de esforço no próprio aprimoramento. É este fio de esperança que faz com que eles acabem por alcançar a condição de fartos.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
A misericórdia, que é o sentimento de compaixão e piedade capaz de levar ao perdão, é a proposta para aqueles que se identificam com o imperativo da colaboração e da caridade, sendo convocados a aplicá-la no seu dia a dia.
Em o Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec esclarece que a misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas.
Bem-aventurados os misericordiosos, que se compadecem dos justos e dos injustos, dos ricos e dos pobres, dos bons e dos maus, entendendo que não existem criaturas sem problemas, sempre dispostos à obra de auxilio fraterno a todos, porque no dia de visitação da luta e da dificuldade receberão o apoio e a colaboração de que necessitem. - Chico Xavier por Humberto de Campos, livro Relicário de Luz
Se, diante de nossos enganos, esperamos receber misericórdia do outro e de Deus, precisamos, primeiramente, exercê-la para com todos, incluindo para com os nossos inimigos. Lembremo-nos de que é dando que se recebe, ou seja, o que oferecemos à vida, a vida nos restitui. Ao praticarmos o perdão, experimentamos, por nossa vez, o consolo de sermos perdoados. Situados como devedores perante a Lei, a misericórdia por nós operada voltará em nosso benefício, atenuando, por sua vez, os nossos débitos.
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Limpos de coração são aqueles que não possuem manchas morais, são os puros.
Dito isso, o objetivo essencial dos que já se encontram conscientes da necessidade de aprimoramento espiritual deve ser empreender todo o esforço em se sublimar, ou seja, se purificar. Nós somos capazes de refletir a luz do Criador, portanto, quanto mais puro for o nosso coração, maior a nossa capacidade de refletir a luz divina.
Para compreender essa bem-aventurança, é necessário lembrarmos que somos dotados de livre-arbítrio. Quando utilizamos mal o livre-arbítrio, seja sentindo, pensando ou agindo, isso macula nosso coração e faz com que nos sintonizemos, pela lei de afinidade, aos espíritos impuros, ou seja, inferiores. Do contrário, quando nos utilizamos dele para o bem, tendo sentimentos, pensamentos e atitudes melhores, voltados realmente para o bem, nos tornamos pessoas melhores, e consequentemente nos sintonizamos com espíritos melhores.
Ter um coração limpo é você não ter sentimento de maldade, é você ser capaz de sentir e agir no bem pela prática da caridade e da fraternidade. Por isso é importante vivenciar os princípios evangélicos, incorporando-os como regra de conduta na vida. Um coração limpo reflete, sempre, a grandeza e a bondade do Criador.
Bem-aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus;
Note que Jesus disse pacificador e não pacífico. Existe fundamental diferença entre os dois termos. Pacífico é um amigo da paz. Pacificador é aquele que, além de pacífico, trabalha, age, em favor da paz.
O pacífico, muitas vezes, pode ser passivo. O pacificador, necessariamente, tem de ser ativo, atuante. Um exemplo perfeito para compreendermos essa diferença é Jesus. Quando Ele aceitou, por amor, a cruz do calvário, revelou-se pacífico. E ao perdoar os algozes, os agentes de sua crucificação, tornou-se pacificador.
À medida que evoluímos e estreitamos nossos laços com o Criador, reconhecendo que somos filhos de Deus, vamos deixando de lado o orgulho e o egoísmo, e, consequentemente, passamos a nos enxergar como irmãos. À vista disso, passamos a trabalhar para reduzir as dificuldades, os desentendimentos e as discórdias. Então começamos a produzir, em nosso entorno, paz e entendimento, e vamos pouco a pouco refletindo o pensamento divino, seja onde estivermos, agindo verdadeiramente como filhos de Deus.
Para exercermos o trabalho de pacificação devemos aprender a tolerar, sem mágoas, os pequenos sacrifícios em nosso cotidiano, em favor da felicidade alheia. Devemos aprender a nunca nos comportarmos como atiçadores da fogueira da discórdia, que é alimentada pela lenha da injúria, da revolta e da rebeldia. E, principalmente, nos inspirarmos no amor aos semelhantes, livre das amarras do personalismo e do sentimentalismo, desenvolvendo uma mentalidade mais esclarecida e equilibrada, que só se manifesta, de forma plena e firme, quando seu fundamento está construído na paz.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus;
Jesus trata da justiça divina, não da humana. Aquele que se dispõe a vivenciar o Evangelho do Cristo, exercendo a renuncia de si mesmo, o perdão, a fraternidade, a caridade, sofrerá perseguições, injúrias, acusações e incompreensão. O seguidor do Cristo deve, mesmo diante da perseguição, sempre perseverar na vivencia do seu Evangelho ainda que sob o peso de sacrifícios e renúncias.
Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.
Como nos diz Humberto de Campos no livro Relicário de Luz, psicografia de Chico Xavier: Bem-aventurados todos os que forem dilacerados e contundidos pela mentira e pela calúnia, por amor ao ministério santificante do Cristo, fustigados diariamente pela reação das trevas, mas agindo valorosos com paciência, firmeza e bondade pela vitória do Senhor, porque se candidatam, desse modo, à coroa triunfante dos profetas celestiais e do próprio Mestre que não encontrou, entre os homens, senão a cruz pesada, antes da gloriosa ressurreição.
O Sermão da Montanha é notável e atual. As lições de Jesus sobre amor, humildade, compaixão, perdão, paz, justiça e misericórdia são essenciais para a evolução do homem. Esses ensinamentos são atemporais, incentivando-nos a buscar um caminho de amor, paz, compaixão e justiça em nosso dia a dia.
As bem-aventuranças são uma série de virtudes que estão interconectadas, começando com a humildade, a principal delas. Elas se acumulam à medida que vamos progredindo espiritualmente, propiciando, a cada um de nós, um caminho seguro de crescimento interior.
As bem-aventuranças são, na verdade, um guia para que o homem possa enfrentar desafios éticos e morais, promovendo uma vida de paz, compreensão e empatia em um mundo marcado por conflitos, egoísmo e desigualdades.
Excelentes palavras que nos ajudam a meditar e refletir sobre este tema tão importante para nossas vidas nos dias atuais.😊