Estados de consciência do próprio homem.

Céu, no sentido religioso, é aquele lugar de alegrias e júbilos para onde todos querem ir. Um lugar onde os justos desfrutarão da felicidade eterna, uma realidade superior. Afinal, quem quer ir para o inferno e arder no fogo eterno?
Historicamente, a concepção de inferno sempre esteve associada a imagens de dor, de sofrimento e de suplícios atrozes, destinado aos que foram condenados a penas angustiosas e horríveis, a torturas eternas. É o lugar onde residem aquelas almas que, em vida, praticaram os mais diversos erros, graves ou nem tanto, e que não se arrependeram por seus atos.
Quando analisamos a questão sob essa ótica, é difícil conceber que Deus, Nosso Pai e Criador, seja justo e misericordioso. Afinal, se uma pessoa erra, comete um grave crime ou mesmo um engano, e em seguida sofre um acidente, morre sem tempo de se arrepender, ela irá obrigatoriamente para o inferno.
É uma visão pueril e muito incompleta.
Amadurecer o entendimento é necessário. Na verdade, o céu e o inferno são estados de consciência. Não são lugares circunscritos onde vamos ao morrer.
Quando caímos consciencialmente dentro de nós mesmos, pelos erros, enganos e crimes cometidos contra a Lei de Amor de Nosso Pai, encontramos o inferno no interior de nossa própria alma.
Porém, quando nos esforçamos para caminhar no bem, providenciando nosso aprimoramento moral e intelectual, perseverando no trabalho, no servir ao próximo, na aquisição de virtudes, criamos, dentro de nós, o céu que tanto buscamos.
Cada homem, por si, elevar-se-á ao céu ou descerá aos infernos transitórios, em obediência às disposições mentais em que se prende. - Chico Xavier por André Luiz - livro Obreiros da Vida Eterna
Toda essa questão de céu e inferno passa pelo progresso da criatura. O homem progride em virtude do seu livre-arbítrio, ou seja, a partir do direcionamento de sua vontade para escolher entre o bem e o mal. E tudo progride, mais rápido ou mais lentamente, de acordo com a nossa vontade. Cada criatura é responsável pelo seu progresso através de seu próprio esforço. Quando nos decidimos a caminhar no bem, seguindo e vivenciando o Evangelho do Cristo, cientes e cumpridores de nossos deveres e responsabilidades, progredimos.
É através do progresso que adquirimos novos conhecimentos, novas faculdades, habilidades e percepções, dilatando a compreensão da vida.
Pode ainda ficar uma dúvida: e a felicidade? A felicidade está na razão do progresso realizado, como nos explica Allan Kardec no livro O Céu e o Inferno - ou a justiça divina segundo o espiritismo.
A felicidade está na razão direta do progresso realizado, de sorte que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto outro, unicamente por não possuir o mesmo adiantamento intelectual e moral, sem que por isso precisem estar, cada qual, em lugar distinto. Ainda que juntos, pode um estar em trevas, enquanto que tudo resplandece para o outro, tal como um cego e um vidente que se dão as mãos: este percebe a luz da qual aquele não recebe a mínima impressão. Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às suas qualidades, haurem-na eles em toda parte em que se encontram, seja à superfície da Terra, no meio dos encarnados, ou no Espaço. - Allan Kardec
O progresso do espírito é o resultado de seu próprio trabalho. Todavia, como a criatura é livre, trabalha para o seu adiantamento com maior ou menor empenho, segundo sua vontade. Ou seja, o homem apressa ou retarda o seu próprio progresso, e assim, a sua felicidade.
Faz-se necessário compreender que somos artífices de nossa situação feliz ou desgraçada. Lembremo-nos do que Jesus disse: a cada um segundo as suas obras.
Cada um que fica atrasado só pode lamentar-se de si mesmo. Portanto, nós mesmos somos responsáveis, através de nossas escolhas, por transformarmo-nos em espíritos diabólicos, criando nossos infernos individuais.
A responsabilidade é de cada um.
Vamos pensar: Deus é todo justiça, amor, poder, bondade, misericórdia. Como podemos pensar que arderemos por toda a eternidade no fogo do inferno sem termos a chance de reparar o mal que fizemos? E como alcançar um céu se nós mesmos erramos, e muito, uns com os outros? E bastará só arrependimento na hora da morte?
Céu e Inferno não são lugares delimitados e determinados, mas estados íntimos da criatura, alicerçados na consciência de cada um. Céu: consciência tranqüila oriunda do esforço permanente de amar e servir em nome do Senhor, edificando-nos a nós mesmos. Inferno: intranqüilidade e remorso decorrentes de atitudes errôneas e invigilantes.
Se evitarmos ofender ou prejudicar o próximo, esforçando-nos por sermos instrumentos úteis nas mãos do Cristo, boas ferramentas na obra do Pai, conquistamos a paz interior, e seremos felizes realmente, livres de remorsos e arrependimentos tardios.
Somente pela compreensão da reencarnação conseguimos o entendimento da justiça de Deus e de suas Lei de Amor.
A encarnação é necessária ao espírito para conseguir esse duplo progresso, intelectual e moral. O progresso intelectual é realizado pela atividade que é obrigado a desenvolver nos seus trabalhos. O progresso moral , pela necessidade das relações mútuas entre os homens. - Allan Kardec
É a vida social que permite ao homem aferir as boas e más qualidades. Tudo o que constitui o homem de bem ou o homem mal, como, por exemplo, bondade e maldade, mansidão e violência, caridade e egoísmo, orgulho e humildade, lealdade e má-fé, franqueza e hipocrisia, enfim, tudo tem por motivo, por alvo e por estimulante as relações dos homens entre si.
Pode-se pensar que viver em isolamento então é a solução para não cair na maldade, todavia, o isolamento também anula as possibilidades de progresso, uma vez que a prática do bem, o desenvolvimento das qualidades, das potencialidades, das virtudes, só acontece na relação de uns para com os outros.
Alcançar o céu ou cair no inferno é decisão tomada por cada um de nós através da qualidade de nossos sentimentos, pensamentos e ações.
Não podemos nos esquecer que estabelecemos sintonia uns com os outros através do pensamento, na correspondência de energia e vibração. Por isso, de fato, há lugares que o espírito pode, ao morrer e deixar o corpo material, considerar um inferno, como por exemplo, o umbral, ou pode considerar um céu, como as colônias espirituais, que são citados constantemente na literatura espírita.
O fato é que o céu e o inferno são criados por nós mesmos, com nossos pensamentos e vontades, pois estamos cientes de que não existe um lugar ou outro que vamos ao desencarnar por termos sido bons ou ruins, apenas seremos atraídos para locais com os quais nós temos afinidade.
O que chamamos de céu e de inferno começam, invariavelmente, dentro de nós, uma vez que exprimem o equilíbrio ou a perturbação, a alegria ou a dor, a consciência em paz pelo bem realizado ou a consciência carregada de remorsos pelos equívocos cometidos.
Quando utilizamos a razão, torna-se muito difícil acreditar nos dogmas de céu como sendo uma região de felicidade para os eleitos, e inferno como sendo uma região horrível de dor e sofrimentos eternos. Esse pensamento pueril representa a extrema negação da bondade, misericórdia, justiça e amor de Deus.
Deus nos criou, a cada um, simples e ignorantes, para que, através de nosso próprio esforço, perseverança e emprenho, avancemos rumo à felicidade verdadeira. Optar, então, pelo céu ou pelo inferno é uma questão individual, puramente pessoal da criatura, que, detentora do livre-arbítrio, tem o direito de escolher o próprio caminho, entretanto, de forma obrigatória e concomitante, deve sofrer as consequências dos atos praticados.
Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, no livro No Mundo Maior diz: A morte a ninguém propiciará passaporte gratuito para a ventura celeste. Nunca promoverá compulsoriamente homens a anjos. Cada criatura transporá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do que houver semeado, e aprenderá que a ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edificante, são característicos imutáveis da Lei, em toda parte.
Ninguém, depois do sepulcro, gozará de um descanso a que não tenha feito jus, porque “o Reino do Senhor não vem com aparências externas”. - Chico Xavier por Emmanuel - livro No Mundo Maior.
A verdadeira felicidade não consiste em ajuntar e reter vantagens terrenas e sim juntar tesouros no céu, ou seja, no íntimo de nossos corações. Somente conseguimos juntar esses tesouros através do próprio esforço em nos aperfeiçoarmos continuamente.
Não nos esqueçamos que o céu começa sempre em nós mesmos e o inferno tem o tamanho da rebeldia de cada um.
Excelente abordagem sobre esse tema tão importante e que o Espiritismo nos esclarece sobre o assunto.