Oportunidade de reajuste
Quem de nós não tem um parente difícil? Muitas vezes é um pai truculento, a mãe perdulária ou controladora, o irmão egoísta, o tio "sem noção", a prima folgada, a avó que vive a reclamar… Ah! Tantos são os tipos de parentes difíceis!
Quem são esses que dividem conosco a conivência familiar? E por que, tantas vezes, essa convivência é tumultuada pelos parentes que rotulamos de "difíceis"?
Por vezes achamos difícil nosso relacionamento com os outros. Imagine, então, o relacionamento com aqueles que convivem conosco no seio familiar. Em nossa família, com nossos parentes, encontramos obstáculos que muitas vezes parecem quase intransponíveis para a convivência em paz e segurança. Lembremo-nos de que aqueles familiares são as criaturas com as quais estamos interligadas, muitas vezes, nos mais intrincados compromissos.
Nossos parentes são as nossas afeições, antagonismos, encargos e dívidas do caminho. Quase sempre são remanescentes de existências anteriores, solicitando-nos amor, exemplo, auxílio, bondade, renúncia e cooperação. Quando esses parentes se revelam como desafios e empecilhos de qualquer espécie, é preciso amá-los e auxiliá-los como eles se apresentam. Para isso, porém, é necessário abrir o nosso espírito à grande compreensão da vida.
Certo é que em algumas circunstâncias eles nos parecerão errados e talvez até nos decepcionem, tanto quanto nós somos passíveis de falhas e desiludimos a muitos em nossa caminhada. Ainda assim, necessário é amar todos os que partilham conosco a convivência e a experiência no dia a dia, aprendendo entendimento e tolerância. E, quando os problemas de convívio aparecerem, devemos conservar paciência e bondade para com aqueles que nos cercam.
Em qualquer dificuldade, compadece-te dos teus para que os teus igualmente se compadeçam de ti. - Chico Xavier por Meimei
O mundo está passando por um período intenso de mudanças, momentos de pressão, de tensão, e nós nos vemos, muitas vezes, acuados frente aos problemas de tantas matizes e procedências, e isso tem afetado o nosso equilíbrio emocional. E as nossas relações familiares ficam ressentidas ante ao desequilíbrio e a velocidade dos acontecimentos. E a convivência afetiva é responsável por grande parte dessa problemática familiar.
Precisamos lembrar que os desequilíbrios morais que nós enfrentamos, resultam do nosso passado sombrio, em que nós erramos tanto, e eles ressurgem no nosso universo familiar, como traições, filhos problemáticos, filhos envolvidos com drogas, sexualidade descontrolada, necessidade de dominação, superproteção de alguns pais em relação os erros e equívocos dos filhos…e isso acaba por abalar o alicerce familiar que deveria ser pautado no equilíbrio.
No livro Sinal verde, André Luiz pela psicografia de Chico Xavier, nos diz: Aceite os parentes difíceis na base da generosidade e da compreensão, na certeza de que as Leis de Deus não nos enlaçam uns com os outros sem causa justa. O parente-problema é sempre um teste com que se nos examina a evolução espiritual.
Temos de compreender o fato de que, muitas vezes, aquele parente difícil, complicado, que está na nossa família, traz as marcas de sofrimento ou até mesmo de deficiência que foram impostas por nós em outras encarnações.
Não podemos exigir dos nossos familiares um comportamento igual ao nosso, porque cada um de nós se caracteriza pelas vantagens ou prejuízos que nós acumulamos na própria alma, nas diversas experiências que vivemos.
Não adianta afastarmos da nossa convivência aquele parente de trato difícil, irascível, bronco… porque nós precisamos quitar os nossos débitos para com eles, pois esse foi o motivo de nascermos na mesma família, caso contrário, nós sé estaremos aumentando os nossos débitos e adiando o devido reajuste.
E há também a questão daqueles que têm alguma deficiência, alguma doença, alguma necessidade especial. André Luiz nos alerta: Não tente se descartar dos parentes difíceis com internações desnecessárias em casas de repouso, à custa de dinheiro, porque a desvinculação real virá nos processos da natureza, quando você houver alcançado a quitação dos próprios débitos ante a Vida Maior. É nessas provações e conflitos familiares, do nosso lar terrestre, que nós estamos pagando na maioria das vezes pelo sistema de prestações, dívidas contraídas por atacado.
E não podemos deixar de lado aqueles parentes que num determinado momento da vida passam por dificuldades e tempestades. É preciso respeitar sempre os nossos entes queridos, notadamente quando atravessam tempestades na vida íntima, prestando atenção que não nos é lícito investigar os detalhes da vida íntima de cada um. Nosso dever é esperar que saibam vencer por si mesmos as tribulações que os visitam, auxiliando quando necessário e evitando os interrogatórios que constrangem o outro, de vez que nós mesmos não gostaríamos que agissem dessa forma conosco.
Meimei, pela psicografia do Chico Xavier, nos adverte para que estejamos convencidos de que não teremos parentes-enigmas e nem seremos familiares-problemas para ninguém se cultivarmos a paz e se tivermos amor.
Superando as dificuldades
Diante dos conflitos domésticos, em que muitas vezes uma pequena rusga doméstica pode ser a nascente de extensas rixas e aversões, precisamos aprender a ouvir sem ficar contradizendo o outro; auxiliar a criança, não só a sorrir, dizendo sim para tudo que a criança quer, mas também educando-a no caminho do bem, da verdade, fornecendo instrução tanto intelectual como moral; evitar criticar esse ou aquele detalhe menos agradável no lar ou questões críticas, porque assim nós cooperamos em silêncio para que os senões e as conversas ofensivas e inúteis desapareçam; não reviver os mal-entendidos de ontem ou de qualquer fase do passado, para que faltas e erros no lar sejam realmente esquecidas; a não gritar e sim conversar.
Respeitando os parentes que estão ligados a nós na caminhada terrestre, é uma forma valiosa de nos preservarmos contra desajustes desnecessários. Emmanuel, no livro Calma, pela psicografia de Chico Xavier, tem um belo texto cujo título é Rusgas Domésticas, e ele nos diz "Não te esqueças: a união começa de casa, mas a calma geral começa em ti mesmo."
Nossa família no mundo nem sempre é um jardim de flores. Ao contrário, por vezes é um espinheiro de preocupações, de desilusão, de tormentas e de angústias que nos pede sacrifício e renúncia. Apesar de necessitarmos de firmeza nas atitudes para temperar a nossa afetividade, jamais vamos conseguir sanar as feridas do lar com violência, intolerância ou desleixo.
No livro Fonte Viva, no capítulo Parentes, Emmanuel diz: Os parentes são obras de amor que o Pai Compassivo nos deu a realizar. Ajudemo-los, através da cooperação e do carinho, atendendo aos desígnios da verdadeira fraternidade. Somente adestrando paciência e compreensão, tolerância e bondade, na praia estreita do lar, é que nos habilitaremos a servir com vitória, no mar alto das grandes experiências.
Todos nós reencarnamos com a necessidade de aprimoramento moral e espiritual. E a família é a nossa salvaguarda, por isso ela precisa ser erguida em bases sólidas de amor, compreensão, respeito, precisa ter diálogo claro, construtivo, e acima de tudo, nós precisamos reacender os valores morais através do estudo e da vivencia do Evangelho, para que o grupo familiar encontre o equilíbrio.
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