Folia, bebida, excessos e loucura.

Carnaval!!!
Quantos não esperam ansiosos por essa festa em que foliões saem às ruas em atitude festiva. Carnaval é uma festa que está intimamente ligada aos excessos de toda a ordem como bebidas, drogas, sensualidade e sexo desregrado.
Não estou aqui para julgar a nenhuma criatura que gosta dessa festa. Meu objetivo é alertar para as sintonias, principalmente espirituais, que estabelecemos nesse tipo de festejo tão popular em nosso Brasil.
Vamos compreender a origem do carnaval. A palavra carnaval vem do latim carne levare que significa afastar-se da carne. O termo começou a ser usado por volta dos séculos XI e XII e se referia à véspera da quarta-feira de cinzas, época em que se iniciava a abstenção da carne. O carnaval era o último dia permitido para o consumo de carne antes dos dias do jejum da quaresma. Sim, o carnaval está associado a religião.
Porém, o carnaval, como o conhecemos hoje, carrega sua origem nas festas dos antigos romanos e pode ter evoluído de festivais pagãos primitivos que eram amplamente celebrados antes do cristianismo ser a religião oficial do Império Romano.
Uma curiosidade: na Itália, mais especificamente, a origem das celebrações podem estar ligadas aos festivais pagãos Saturnalia e Lupercália. O festival pagão Saturnália era realizado em honra ao deus Saturno e ocorria no solstício de inverno, em dezembro. Já o Lupercália acontecia em fevereiro, no mês das divindades infernais e das purificações para os romanos. Ambas as festas duravam dias e eram abastecidas com muita comida, bebida e danças.
O carnaval é considerado, desde há muito tempo, uma festa profana, ou seja, que afasta do sagrado, que faz uso abusivo de práticas impuras e indignas. Tanto é assim, que na antiguidade grego-romana também esses festejos pagãos eram conhecidos pela embriaguez excessiva e pelas orgias, ou seja, as pessoas se entregavam aos prazeres da carne sem qualquer tipo de pudor.
No Brasil o carnaval foi primeiramente chamado de entrudo, chegou ao país durante o período colonial, no século XVII, por meio dos portugueses. A festa era baseada em brincadeiras em que as pessoas sujavam umas as outras. Após a declaração de independência, em 1822, alguns intelectuais e artistas trouxeram ao país as festas italianas e francesas, já com o nome de carnaval. Assim, surgiram, em nosso país, os bailes e desfiles de alegorias.
Vamos abordar o tema carnaval pela ótica espiritual. Pois, como eu sempre digo, quando retiramos da equação da vida o fator espiritual, nossa compreensão dos fatos e dos acontecimentos fica prejudicada. O carnaval é a comemoração de tudo que o materialista elege como prazer, ou seja, festas, bebidas, drogas e sexualidade sem limites. Em geral, esses comportamentos fazem parte da maioria das comemorações carnavalescas onde observamos que a libertinagem está acima da média de outros momentos. Durante o carnaval as pessoas se entregam a uma energia muito mais material, imediatista e animalizada colocando os prazeres materiais acima da moral.
Bezerra de Menezes diz que carnaval é festa que guarda vestígios da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre os encarnados, marcados pelas paixões do prazer violento. É uma festa cujo padrão vibratório de grande parte dos foliões encontra-se baixo.
Sabemos que tudo é energia, e que a energia vibra em padrões escalares, e nosso pensamento é energia viva. Sabemos também, conforme nos ensina Emmanuel, no livro Roteiro, psicografia de Chico Xavier, que os nossos pensamentos são forças, imagens, coisas e criações visíveis e tangíveis no campo espiritual. Atraímos companheiros (encarnados e desencarnados) e recursos, de conformidade com a natureza de nossas ideias, aspirações, invocações e apelos.
Vejam, o pensamento, que é energia viva, desloca, em torno de nós, forças sutis que constroem paisagens e formas, criando centros magnéticos ou ondas, com os quais emitimos a nossa atuação ou recebemos a atuação dos outros. A lei de reciprocidade impera em todos os acontecimentos da vida. Emmanuel diz: comunicar-nos-emos com as entidades e núcleos de pensamentos, com os quais nos colocamos em sintonia.
A associação mora em todas as coisas, preside a todos os acontecimentos e comanda a existência de todos os seres. - Chico Xavier por Emmanuel, livro Pensamento e Vida
Quando, pela nossa invigilância, nos entregamos a comportamentos desequilibrados e inferiores, nossa mente fica enferma e perturbada. Assim, assimilamos as correntes desordenadas do desequilíbrio de outras mentes, também desvairadas e enfermas, estabelecendo sintonia perturbadora.
Nenhuma criatura está só. Portanto, recebemos de acordo com aquilo que damos. Emmanuel nos diz que cada alma vive no clima espiritual que elegeu, procurando o tipo de experiência em que situa a própria felicidade.
Estejamos, assim, convictos de que os nossos companheiros na Terra ou no Além são aqueles que escolhemos com as nossas solicitações interiores, mesmo porque, segundo o antigo ensinamento evangélico, “teremos nosso tesouro onde colocarmos o coração”. - Chico Xavier por Emmanuel, livro Roteiro
Mantemo-nos em constante troca de fluídos e de energias com o mundo espiritual, nossas intenções e nossa energia espiritual estão diretamente ligadas ao nosso proceder moral, ou seja, a maneira de nos comportarmos perante o mundo. Moral é regra de bem proceder.
Arthur Joviano, pela psicografia do Chico Xavier, no livro Colheita do bem nos diz que o carnaval é uma época de espiritualidade atormentada. Porque o homem, na grande maioria das vezes se entrega as paixões inferiores, em franco processo de desvario, de loucura. As pessoas vagueiam, nas mais diversas direções, buscando e entregando-se, invigilantes, aos prazeres materiais, e isso gera dramas sinistros que podem levar muito tempo para serem resolvidos.
Nossas ondas mentais, quando nos ligamos aos apelos inferiores, se sintonizam com os desencarnados e encantados que vibram na mesma frequência de desequilíbrio.
No livro Nas fronteiras da loucura, Manoel Philomeno de Miranda, pela psicografia de Divaldo Franco faz um relato esclarecedor: O último dia do Carnaval apresentava-se portador de excessos de toda natureza. Pairava, no ar, uma psicosfera tóxica, de alucinação. A pândega (festa ruidosa) tomava um aspecto surpreendente e os exageros haviam marcado encontro nas avenidas e clubes da cidade. Era como se tudo devesse consumir-se logo depois, o que estimulava à consumpção (consumição, destruição) durante. Festa dos corpos, dos sentidos físicos, as criaturas esqueciam-se dos escrúpulos, do pudor, confundindo-se numa linha comum de alienação. Grupos de trabalhadores espirituais sucediam-se em assistência, como a cuidar de crianças inexperientes em situações difíceis. Nem sempre, é claro, as providências desses beneméritos amigos resultavam favoráveis ou exitosas, do nosso ponto de vista, o que também não representava fracasso, porquanto o contágio do bem, embora rápido, sempre deixa impregnação amena.
E ainda há pessoas que dizem: o que é que tem, eu sou inteligente, não vou me deixar levar por essas coisas não, só vou me divertir. Lembremo-nos que pela inteligência o homem tanto pode elevar-se como pode sofrer quedas assombrosas. A inteligência reclama o fator da direção, para onde eu direciono o meu pensamento é aí que eu vivo. Aliado a invigilância, o pensamento mal dirigido pode nos fazer cair em abismos tenebrosos de dor e sofrimento.
Nenhum Espírito equilibrado em face do bom senso que deve presidir a existência das criaturas pode fazer a apologia da loucura generalizada que adormece as consciências nas festas carnavalescas. - Chico Xavier por Emmanuel, livro Cartas do Alto
É lamentável o despudor e a libertinagem desses dias tão nocivos, que faz com que as almas ainda indecisas do caminho do bem e necessitadas do amparo moral de espíritos mais esclarecidos, revivam a animalidade e a inferioridade de comportamentos que só os longos aprendizados poderão fazer desaparecer.
Nesses momentos de indisciplina das emoções e sentimentos, abrimos largo acesso às forças das trevas em nossos corações, que nos influenciam a adotarmos todo tipo de comportamento desvairado, o que nos causará momentos de dor e sofrimento. Emmanuel nos diz que toda uma existência não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento do dever.
Os espíritos ligados às sombras e às trevas agem durante o carnaval influenciando, pois é mais fácil conseguir acesso a criatura humana invigilante e ligada aos sentimentos inferiores, para que os excessos de todos os tipos sejam cometidos em nome das festividades. Isso acarreta situações de vampirismo espiritual e obsessões complexas, pois baixamos nossa energia a níveis muito primários, e abrimos a porta da nossa mente estabelecendo sintonia com esses espíritos.
Nossa alma entra em ressonância com as correntes mentais em que respiram as almas que se assemelham conosco.
Assimilamos os pensamentos daqueles que pensam como pensamos. É que sentindo, mentalizando, falando ou agindo, sintonizamo-nos com as emoções e ideias de todas as pessoas, encarnadas ou desencarnadas, da nossa faixa de simpatia. Estamos invariavelmente atraindo ou repelindo recursos mentais que se agregam aos nossos, fortificando-nos para o bem ou para o mal, segundo a direção que escolhemos. Em qualquer providência e em qualquer opinião, somos sempre a soma de muitos. - Chico Xavier por Emmanuel, livro Pensamento e Vida
Somos livres para fazermos nossas escolhas. Todavia, somos constrangidos à recolher as consequências dessas escolhas. Portanto, utilize bem o seu livre-arbítrio nesse carnaval. Como diria minha querida avó: tenha juízo, menina!
Coisas do carnaval
Deixo, para nossa reflexão, texto de Humberto de Campos, psicografado por Chico Xavier no livro Verdade e Amor. O título original é Cousas do carnaval.
As alegrias ruidosas que precedem o carnaval de 1941 trazem aos olhos de minha imaginação um quadro estranho e doloroso.
Iniciavam-se os movimentos carnavalescos do ano findo. Era um crepúsculo radioso de domingo e, entre os gelados da avenida, enquanto o carioca procurava, ansioso, um lenitivo do calor sufocante, ferviam comentários, relativos ao curioso reinado de Momo.
Os morros estavam inflamados de samba. Nos bairros chiques, as meninas suburbanas ensaiavam batalhas de confete.
— Você quer ver a intensidade de nossos serviços? — Perguntou-me um amigo espiritual, desejoso de instruir-se nas lições do meu mundo novo.
Interessado na sua atenção, acompanhei-o sem hesitar.
Chegamos a um casarão desabitado e silencioso.
— Espera! — Disse-me o companheiro, com solicitude.
Aquietamo-nos num recanto sombrio. Daí a pouco, grande número de vultos escuros reuniam-se no vasto salão próximo. Dominou-me enorme impressão de assombro. Ainda não havia visto uma assembleia de Espíritos do mal. Alguns deles passaram por nós e não nos viram, mas como tenho visitado as assembleias propriamente humanas, sem que ninguém se aperceba de minha presença, não cheguei a experimentar maior admiração.
Confabulavam os circunstantes, entre si. Lembrei-me das histórias em que me contavam, na infância, as bravatas dos demônios ausentes do inferno. Minha comparação era justa. Aquelas entidades pareciam excessivamente perversas; os mais atrevidos expunham projetos ignominiosos. Alguns referiam-se a crimes cometidos, a vinganças efetuadas. O conjunto oferecia a impressão de uma quadrilha de malfeitores perfeitamente organizada. Havia chefes e sequazes, como se as organizações criminosas da Terra tivessem sua continuação no Plano invisível.
Dentre todas as palestras ouvidas, um fato despertou particularmente minha atenção.
Uma entidade que parecia mais inexperiente, dando a ideia de um auxiliar de serviço ansioso de remuneração, aproximou-se de um superior, deu-lhe conta das incumbências recebidas e, depois de receber-lhe a aprovação reclamou em tom de grande insistência:
— Tenho cumprido meus deveres com interesse, mas espero o concurso dos companheiros para minha vingança há mais de sete meses! Aquela mulher precisa morrer! Terá de aproximar-se de nosso convívio, sofrerá tudo o que sofri, entretanto, o auxílio de nossa união está sendo retardado…
O interpelado fixou nele o olhar estranho e falou:
— Espera um pouco ainda, tua satisfação aproxima-se. Não nos foi possível atender-te, antes, porque seria difícil em tempos normais. Vai chegar a época própria.
— Mas por que tenho aguardado tanto? — Perguntou o outro, impaciente.
— Como sabes, esclareceu o superior, os tempos normais são de Deus. Dentro deles, pela vigilância de uma só pessoa, cooperam as disciplinas sociais, o pensamento dos Espíritos justos, a Influência indireta dos lares respeitáveis, as preces dos templos, os santuários abertos. Os que não erraram defendem as almas caídas. Encontramos, assim, muitos obstáculos. Mas já estamos nas vésperas dos tempos anormais. Esses são do homem, e o homem é inferior como nós mesmos. Quando há guerra ou loucura, só podem manter contato com Deus os que já adquiriram passagem livre, mas os outros caem no nosso nível, então os bons serviços podem ser feitos.
A entidade inexperiente ouviu as observações e sentenciou:
— Aqui no Rio não há guerra.
— Mas haverá o carnaval, disse o outro, convicto.
— E o movimento oferece tamanhas oportunidades?
— Como não? — Acentuou o outro, nesses dias, todos os núcleos ou quase todos os centros de irradiação espiritual estarão mais ou menos em repouso. Os agrupamentos espíritas, de modo geral, não funcionam, as igrejas estarão de portas cerradas. Grande número dos bons lares estarão desertos, porque muitas famílias respeitáveis temem, instintivamente, nossa ação e se retiram para o interior. Os homens mais sensatos fazem retiro espiritual e não saem à rua, perturbando-nos os desígnios. Como vês, as energias mais sérias abandonam o campo à nossa atividade. As vozes de Cristo, com raras exceções, permanecerão caladas, receosas ou distraídas. Então é justo esperar resultados de nossas tarefas vingadoras.
Confabularam, ainda, por algum tempo. Comentaram a situação da vítima e exaltaram o propósito mesquinho. A palestra expunha seu nome e sua habitação, e, intimamente, alimentei a ideia de acompanhar a questão até o fim.
Junto do companheiro, saí impressionado, enquanto sua palavra amorosa esclarecia a complexidade da tarefa de todos os bons trabalhadores de Jesus nos planos invisíveis que rodeiam a atividade do homem da Terra.
E veio o carnaval.
Admirado, segui de perto o esforço titânico das entidades consagradas ao bem, para que se atenuassem os crimes, para que o mal não deitasse mais longamente suas raízes venenosas.
Somente na quarta-feira de cinzas recordei os propósitos perversos da conversação ouvida, na assembleia empolgada por criminosos interesses.
Bastou um pensamento e me encontrei na casa humilde que a palestra iniciara.
Pequeno grupo de populares observava os funerais de uma moça pobre. Entrei. No ataúde que se fechava, sob as lágrimas pungentes de uma senhora que parecia extremamente sofredora, vi o cadáver de uma mulher jovem, aparentando trinta anos.
E enquanto voltava à rua espantado, meditando no instituto das provas, nas lutas enormes que se travam de espírito para espírito, escutei a voz da pequena multidão suburbana que discutia:
— Afinal, foi verificada a causa mortis? — Perguntava um rapaz de gestos pedantes.
— Não sei, esclarecia uma senhora idosa, somente ontem à tarde, a família conseguiu descobri-la, agonizante.
— Era muito leviana, — diziam outros.
Mas um velhote de semblante bonachão, parecendo um pândego em férias, tão displicente quanto a maioria dos homens deste século, punha termo ao assunto, exclamando. inconsciente:
— Ora! ora! Mas para que tantas discussões?!… São cousas do carnaval.
Bom dia, excelente abordagem, texto muito bem construído e muito esclarecedor.