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DESAPEGO

Conquistar a si mesmo vencendo a ilusão da matéria



Muitos pensam que desapego é falta de amor, indiferença, desinteresse…


Esse pensamento justifica-se ao consultarmos o dicionário: Desapegar é tornar(-se) desafeiçoado ou menos afeiçoado a; fazer perder ou perder o envolvimento, a dependência ou o compromisso com; afastar(-se), libertar(-se).


Mas quando compreendemos que nada, absolutamente nada neste mundo nos pertence, que somos usufrutuários das concessões da Providencia Divina, aí as coisas mudam de figura, como se diz.


É preciso dilatar o entendimento percebendo que o dinheiro, o poder terreno, as posições e os cargos que nós eventualmente ocupamos são só circunstancias, são temporários.




O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém, que é a abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste. Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver adquirido em bem, resultará a sua posição futura. - Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo

Recorrendo novamente ao Evangelho Segundo o Espiritismo: “Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens. Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que Deus frequentemente anula todas as previsões e a riqueza foge àquele que se julga com os melhores títulos para possuí-la.”


Nada é permanente, nada é estático no universo, nem a saúde ou a doença, nem a alegria ou a tristeza, ou a pobreza e a riqueza, a dor e o sofrimento, nada é permanente, porque tudo cumpre um papel educativo em nosso processo de evolução.


Desapegar-se é conquistar a si mesmo, é vencer a ilusão da matéria. Muitos ainda confundem a questão da conquista de si mesmo, porque tem-se a falsa idéia de que conquistar a si mesmo é conseguir o poder, é conseguir muito dinheiro, é alcançar o sucesso profissional… Mas na verdade conquistar a si mesmo não é isso, porque todas essas realizações são exteriores, conquistar a si mesmo tem a ver com a  autolibertação.


Léon Denis no livro O problema do ser do destino e da dor diz para Acrescentemos o desapego das coisas materiais, a firme vontade de melhorar a nossa união com Deus em espírito e verdade.


A autolibertação é o desapego das coisas e das pessoas. Porém o desapego das coisas não significa o abandono delas, mas sim sua utilização sem a dependência, é valorizar as coisas sem escravizar-se às mesmas. Tampouco o desapego às pessoas quer dizer falta de amor. É claro que as pessoas continuam a serem amadas, mas sem a relação de dependência, sem ser conivente com os caprichos que as pessoas impõe ao outro numa relação.


Exercer o desapego em relação às pessoas é amar sem posse, é entender que cada um tem o próprio caminho para trilhar. A evolução de cada um é processo individual.


O pouco apreço que se ligue a uma coisa faz que menos sensível seja a sua perda. O homem que se aferra aos bens terrenos é como a criança que somente vê o momento que passa. O que deles se desprende é como o adulto que vê as coisas mais importantes, por compreender estas proféticas palavras do Salvador: “O meu reino não é deste mundo. - Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo

Desapego tem uma relação próxima com a advertência "endireitar os caminhos” como está dito no Evangelho de João 1:23 "Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías." O desapego é essencial para endireitarmos nosso caminho


No livro Caminho Verdade e Vida, do Emmanuel pela psicografia do Chico Xavier, tem um capítulo cujo título é Endireitai os caminhos. Emmanuel diz:  Para que alguém sinta a influência santificadora do Cristo, é preciso retificar a estrada em que tem vivido. Muitos choram em veredas do crime, lamentam-se nos resvaladouros do erro sistemático, invocam o céu sem o desapego às paixões avassaladoras do campo material. Em tais condições, não é justo dirigir-se a alma ao Salvador, que aceitou a humilhação e a cruz sem queixas de qualquer natureza.


Grande parte das vezes o que fazemos é reclamar, nos achando injustiçado, clamamos por Jesus e por seu socorro, por sua intervenção em nossos problemas, clamamos pela sua paz, mas continuamos apegados às coisas da matéria sem promover o nosso próprio melhoramento.


O apego é um obstáculo que todos nós vamos ter que superar mais cedo ou mais tarde, porque ele surge quando não compreendemos o lado interno da vida, quando olhamos para a vida só externamente, para o que está fora de nós. Apego é filho dileto do egoísmo.


Ninguém é dono de nada, ninguém possui aquilo que julga possuir, porque tudo é concessão da providencia divina, a única coisa que nós temos são as nossas aquisições espirituais, são os valores verdadeiros que nós vamos consolidando em nós. Assim, é preciso compreender que esse processo de desapego passa necessariamente pelo doar, quanto mais a gente retém, menos a gente tem.


Exercitar o desapego não é só uma questão de inteligência, mas é um processo de educação da mente e das nossas emoções, porque assim nós evitamos sofrimento desnecessário.


A vida sempre nos convida a nos libertarmos da ilusão do mundo material, porque não somos senhores das coisas, nem das pessoas e nem das situações.


Bezerra de Menezes tem uma frase que eu gosto muito, ele diz: Hoje estais positivamente aqui, no entanto, no amanhã breve ou remoto, estareis adiante, cogitando de ampliar as propriedades espirituais que houverdes colocado em vós mesmos.


O que nos importa verdadeiramente não são as conquistas materiais, são as conquistas espirituais.


O maior convite que nós recebemos na questão do desapego é a própria morte. Lembro-me que no livro Cartas de uma morta, psicografia de Chico Xavier por sua própria mãe, Maria João de Deus, o guia espiritual dela diz: O teu corpo material constituía somente uma veste que se estragou na voragem do tempo. Considera essa verdade para que te escutes no necessário desapego das coisas mundanas.


Contentando-se com o que possuimos


O espirito Lacordaire em O Evangelho Segundo o Espiritismo noás uma bela lição:


“Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, porquanto a riqueza não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que os bens de que dispondes apenas vos estão confiados e que tendes de justificar o emprego que lhes derdes, como se prestásseis contas de uma tutela. Não sejais depositário infiel, utilizando-os unicamente em satisfação do vosso orgulho e da vossa sensualidade. Não vos julgueis com o direito de dispor em vosso exclusivo proveito daquilo que recebestes, não por doação, mas simplesmente como empréstimo. Se não sabeis restituir, não tendes o direito de pedir, e lembrai-vos de que aquele que dá aos pobres, salda a dívida que contraiu com Deus."


É preciso seguir sempre adiante, trabalhando e servindo. Não vamos reter senão os recursos de que tenhamos necessidade. Aprendamos a considerar aqueles que são os nossos companheiros do caminho, percebendo que quanto mais bagagem carregamos, maior a inquietação que sentimos.


Exercitemos o desapego, das coisas e das pessoas. Sigamos o verdadeiro caminho do amor, sem posse, com a consciência liberta do apego, para que consigamos alçar o verdadeiro voo para a felicidade.

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