Qualidades essenciais do homem de bem.
Toda criatura é capaz de compreender que para evoluir é preciso desenvolver virtudes. Mas o que são virtudes?
Os primeiros registros sobre a virtude aparecem nos tempos da Grécia de Homero com a palavra areté, que etimologicamente, significa excelência.
O pensamento da época, contudo, não empregava a palavra areté unida à concepção de moralidade que, em geral, faz parte da concepção atual de virtude.
Nos poemas homéricos, ela era utilizada para definir a excelência do homem em qualquer atividade, por exemplo: atleta de excelência, soldado de excelência, excelência intelectual. A palavra grega areté foi, mais tarde, traduzida para o latim como virtus.
Virtude, em um sentido geral, é a qualidade do que se conforma com o considerado correto e desejável, principalmente em relação à moral e à ética. Em sentido específico o conceito se restringe a duas capacidades humanas: a conduta moral no bem e a habilidade para fazer algo corretamente.
Para a filosofia, bem como para as religiões cristãs, as virtudes são qualidades efetivadas pelo hábito, onde atuam, simultaneamente, a inteligência e a vontade.
Aristóteles afirmava que há duas espécies de virtudes: a intelectual e a moral. A virtude é entendida por Aristóteles como uma prática e não como sendo mero conhecimento ou algo natural que cada ser humano possui. Sendo, por isso mesmo, necessária a sua prática constante como um hábito. A prática da virtude inclina a pessoa para o bem, que é a busca pela felicidade.
A virtude, no mais alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo
Virtudes são disposições constantes do espírito, as quais, por um esforço da vontade, inclinam o indivíduo a praticar o bem e evitar o mal. A virtude não é somente uma simples potencialidade ou inclinação para que se realize uma ação nobre. É antes uma verdadeira disposição que se manifesta em benefício do outro.
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, livro III - capítulo XII - Perfeição Moral, na questão 893, pergunta aos Espíritos qual a mais meritória de todas as virtudes. A resposta: Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.
A marca mais visível da inferioridade da alma é o interesse pessoal, gesto que nasce do egoísmo e, muitas vezes, também do orgulho.
Os vícios morais, tais como a vaidade, o ódio, a inveja, o orgulho, o ciúme, a ganância, o preconceito, a vingança, e principalmente o egoísmo, que é o mais perigoso de todos, e de onde derivam os demais, são sinais de imperfeição do espírito. O interesse pessoal é o sinal mais característico da imperfeição da criatura.
Quando o Espírito descobre que nada lhe pertence, que tudo, verdadeiramente, pertence a Deus, e que todos somos Seus filhos e herdeiros dos bens, e que esses bens, quando os possuímos, são de duração efêmera, o homem passa ao desprendimento, e, como diz o espírito Miramez pela psicografia de João Nunes Maia, desprendimento com Jesus não é desperdício, é saber usar o que Deus colocou em nossas mãos.
Se queres melhorar espiritualmente, passa a combater o egoísmo, reação da ignorância, que costuma ter durabilidade infindável nos caminhos dos homens. Os bens materiais te prenderão cada vez mais, fazendo a alma esquecer dos bens imperecíveis do Espírito. é justo que cuides dos teus bens, se os tens, mas não com apego, de maneira a esquecer dos bens da vida eterna. Podes transformar o ouro em coisas santas e dignas de louvor, usá-lo em favor dos que padecem, servires dele para matar a fome e vestir os nus, dar teto aos desabrigados e amparar aos que choram em duras provas. - João Nunes Maia por Miramez - livro Filosofia Espírita vol. XVIII
Existem pessoas que fazem o bem espontaneamente. São aquelas que já realizaram o esforço em conquistar virtudes. Ou seja, lutaram ontem e triunfaram. Por isso é que os bons sentimentos não lhes custam nenhum esforço e suas ações lhes parecem simplicíssimas. O bem, para elas, se tornou um hábito.
Nós ainda estamos muito longe da perfeição. Muitas vezes, vemos pessoas que realmente agem no bem, fazendo e vivendo o bem, com desprendimento de si mesmas, fazendo o bem até aos desafetos e aos inimigos, e são até mesmo chamadas de tolas. Todavia, na verdade, elas são excessão a regra que vige no planeta, que ainda é a maldade, a intolerância, a mentira, a corrupção…
Devemos nos esforçar na aquisição das virtudes como, por exemplo, sabedoria, temperança, justiça, coragem, tolerância, paciência, indulgência, fortaleza, mansidão, caridade, fé, esperança, humildade.
Sempre quando o homem conquista algum grau de alguma virtude, ou seja, quando ele desenvolve qualidades reais, a sociedade o considera como homem de bem. E, ainda assim, essas qualidades, não obstante assinalem um progresso, nem sempre suportam certas provas e às vezes basta que determinada prova atinja o interesse pessoal da criatura para que ela não tenha sucesso.
O verdadeiro desinteresse é coisa ainda tão rara na Terra que, quando o percebemos na conduta de alguém, ficamos admirados e o tomamos por um fenômeno raro.
O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferrar aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro. - Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, questão 895
A virtude constantemente é aferida em testes que lhe confirmem o valor. Sempre que conseguimos adquirir uma virtude, como a paciência por exemplo, somos colocados à prova para verificar se realmente aprendemos a ser pacientes e se aquela virtude já consegue ser acalentada dentro de nós mesmos, para que se desenvolva cada vez mais.
A virtude é sempre uma sublime e imorredoura aquisição do Espírito nas estradas da vida, incorporada eternamente aos seus valores, conquistados pelo trabalho no esforço próprio. - Chico Xavier por Emmanuel no livro O consolador
A virtude não surge no homem sem o devido aprimoramento e sem sacrifício. Se desejamos construí-la em nossos corações, é imprescindível não nos acovardarmos diante das oportunidades que a vida nos oferece.
Por isso mesmo, aplicai toda a diligência em juntar a vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento o autodomínio, ao autodomínio a perseverança, à perseverança a piedade, à piedade o amor fraterno e amor fraterno a caridade. - 2 Pedro, 1.5-7.
A recomendação de Pedro nos faz refletir que o desenvolvimento das virtudes envolve a melhoria integral do ser humano, em todos os aspectos da vida, em qualquer lugar. Ou seja, devemos desenvolver as virtudes no lar, no ambiente profissional, no templo religioso, nos locais de lazer, etc. A aquisição de um valor moral, ou virtude, leva á conquista de outro, e, assim, sucessivamente, até que o indivíduo se transforme em uma pessoa de bem.
Alguns comportamentos nossos nos impedem de conquistar as virtudes. Por exemplo, quando não resistimos ao desespero, não conquistamos a paciência. Se não controlamos nosso temperamento impulsivo, jamais alcançaremos a serenidade. Sem que exerçamos a renúncia nunca experimentaremos o amor verdadeiro. Se não praticarmos a gentileza não seremos capazes de manifestar bondade. Sem aprendermos a tolerância, não atingiremos a fortaleza espiritual. Quando não compreendemos a necessidade de servir ao próximo, não conquistamos os valores da simpatia. Sem direcionarmos a nossa vontade para o bem, teremos dificuldade enorme em evoluir. Quando não somos firmes em nossas atitudes não alcançamos o conhecimento da verdade. Ao não aprendermos a cultivar os momentos de silêncio em nosso íntimo, não alcançamos a harmonia mental. Sem escutarmos nossa própria consciência, onde estão inscritas as Leis Divinas, inevitavelmente caímos nos abismos de sombras em nós mesmos.
A aquisição de virtudes exige da criatura disciplina, empenho e persistência. Não é algo que se consegue de um dia para outro, nem é obtido por meio de graça ou concessão divina. O que o Pai nos concede é a força para que tenhamos boa vontade para nos livrar do mal e fazer o bem.
A virtude é adquirida pelo homem através de seus esforços, em existências sucessivas, abandonando, pouco a pouco, as suas imperfeições. Seu desenvolvimento representa desafio significativo na superação das próprias imperfeições e dos impulsos dominadores das paixões inferiores. O homem deve usar a razão, mantendo-a sob o controle seguro e firme da vontade, para que um roteiro de aprimoramento espiritual seja planejado e seguido.
Aquele que foge à responsabilidade de trabalhar para alcançar as virtudes está desistindo, por tempo indefinido, do esforço de aprimoramento.
Todavia, a bondade do Criador é imensa, e Ele nunca nos desampara. Em verdade, Ele sempre auxilia a criatura através das próprias criaturas.
Compreender que a responsabilidade de aprimoramento é inteiramente nossa, e que, ao desenvolvermos certas virtudes, temos o dever de socorrer, com bondade e entendimento, aqueles que necessitam de auxilio para que eles mesmos possam conquistar o próprio equilíbrio.
Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier diz que compreender, no bom sentido, é ver para abençoar, aliviar, amparar, construir ou reconstruir.
Desenvolver virtudes é acender nossa própria luz.
Com a palavra, Chico Xavier:
A virtude mais difícil
No meu ponto de vista, a virtude mais difícil de ser posta em prática é a do perdão; perdoar exige um esforço de autossuperação muito grande… Emmanuel me diz que quem aprende a perdoar tem caminho livre pela frente. Creio que, por este motivo, a derradeira lição de Jesus para a Humanidade foi a do perdão!… Ele a deixou por último, esperando o momento em que pudesse exemplificá-la… É claro que Ele se referira ao perdão em diversas oportunidades, mas, na hora da cruz, padecendo toda espécie de humilhação, o ensinamento do perdão foi gravado a fogo na consciência da Humanidade… Ninguém sofreu e perdoou como Ele!… O Espírito que adquirir a virtude do perdão não achará dificuldade em mais nada; haja o que houver, aconteça o que acontecer, ele saberá administrar a sua vida…
Do livro O Evangelho de Chico Xavier
Excelente material para nosso estudo e reflexão, muito bom!