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DINHEIRO

Desmistificando a riqueza material


Quando se pensa na questão do dinheiro, a maioria das pessoas ainda vê o dinheiro como uma coisa ruim. O que é um engano. Vamos compreender.


Nós vivemos em um planeta de provas e expiações, um planeta onde é necessário o antagonismo, o contraste. Por isso vemos que em nossa sociedade existe riqueza e pobreza, fama e anonimato, saúde e doença, beleza e feiura, bondade e maldade… Todas as diferenças que vemos existem porque não temos estruturas morais sólidas e nem conhecimento espiritual suficiente para compreender essas diferenças.


O Banco Crédit Suisse em 2022 fez um relatório apontando que 1% dos mais ricos do mundo detém 45,6% do patrimônio mundial. Esse mesmo estudo aponta que se toda a riqueza mundial fosse dividida entre todos os adultos do mundo cada um receberia 87.849,00 dólares ou 431.338,59 reais.


Têm gente que pode pensar assim: nossa! Isso acaba com a pobreza do mundo!!! Vamos fazer isso!!! Vamos pegar esses ricos e acabar com a riqueza deles… Quanta ingenuidade!


Pensando o lado puramente material em primeiro lugar:  a maioria das pessoas não tem educação financeira para lidar de forma correta com o dinheiro. A grande maioria ao receber essa quantia é capaz de gastá-la em um único dia, com as coisas mais supérfluas que existem, sem nem pensar em multiplicar o dinheiro. Aí vem a fome, pobreza extrema, caos social…


Muitas pessoas, recebendo o seu salário por mês, já vivem endividadas por conta de exageros, de não saber lidar com o dinheiro, vivendo além das possibilidades materiais… É preciso dilatar o nosso entendimento antes de nos apegarmos a ideias utópicas, utilizar a razão é dever de cada um de nós.


Olhando pelo lado espiritual basta lembramos da questão 814 de O Livro dos Espíritos. Allan Kardec fez a seguinte pergunta ao Espírito da Verdade: Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria? “Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com frequência”.


A prova da riqueza, em vários os aspectos, é muito mais difícil do que a prova da pobreza… Algumas pessoas podem pensar: passar fome e não ter onde morar é muito mais difícil que ter dinheiro para tudo…


Isso é fruto de uma observação rasa, porque é muito mais fácil você sucumbir diante das facilidades da vida do que das dificuldades… Eu sempre falo: quando retiramos da equação da vida o fator espiritual, nada faz sentido, a interpretação fica prejudicada, fica pobre de entendimento.


A Doutrina Espírita não critica a riqueza e a acumulação. Necessário é entender que se você vive somente mergulhado na perspectiva de bens materiais, sem levar em conta os valores mais consistentes da vida, os valores morais, você vai adotar e passar a viver valores altamente materiais deixando de lado os valores espirituais.


Nós estamos vivendo um momento no planeta onde a riqueza exclusivamente material ganha força no coração dos seres humanos e a busca por valores monetários transforma a perspectiva geral dos indivíduos: tudo é dinheiro, consumo em excesso, eu quero isso, quero aquilo… e nos esquecemos que a vida é feita de equilíbrio.


O dinheiro é positivo na sociedade. Precisamos parar de demonizar o dinheiro, a riqueza material. O dinheiro deve ser visto como um grande instrumento de geração de bem-estar social, ele auxilia na construção de um futuro digno para os indivíduos, melhora as condições alimentares da população e abre novas perspectivas para indivíduos que, muitas vezes, vivem em condições em que até mesmo o sonho não lhe é possível.


É fundamental aprendermos a utilizar o dinheiro de forma correta e equilibrada. O que se vê é que em muitos casos as pessoas não mais controlam o dinheiro, mas são controlados por ele, como se fossem marionetes. É só observar ao redor de nós mesmos: quantos ao receber um dinheiro extra, ao invés de aplicar esse recurso em algo que vai render, que vai trazer mais segurança financeira, saem gastando "como se não houvesse amanhã".


Como esse planeta é  marcado pelo poder e pela força da matéria, muitas criaturas desprovidas de recursos financeiros se revoltam contra Deus, a maioria não se lembra de que quando estavam no mundo espiritual, foram eles que escolheram a privação financeira como forma de conseguir êxito na nova encarnação.


As duas provas, da pobreza e da riqueza, são testes difíceis para cada um de nós. Enquanto a miséria pode provocar a revolta com a Providência Divina, a riqueza incita aos excessos de toda ordem, o culto aos valores materiais e o afastamento das promessas feitas anteriormente.


O rico, como dispõe de maiores recursos financeiros e meios para fazer o Bem, se não o faz, torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável, acumulando dívidas no retorno ao mundo espiritual. O pobre é por Deus experimentado pela resignação, quando este se rebela passa a acumular mais desequilíbrios espirituais. O rico é experimentado pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder econômico e financeiro.


Pelas facilidades que a riqueza e o poder proporcionam ao ser humano, a prova da riqueza é muito mais espinhosa, pois normalmente incita-o em apegar-se à matéria e o afasta da perfeição espiritual.


Muitos de nós, principalmente aqueles em uma condição de pobreza, não acreditam ou não querem acreditar, mas a prova da riqueza é mais difícil de ser superada com êxito do que a prova da privação.


E não podemos nos esquecer da verdade: nada é nosso, tudo é do Criador. Somos só usufrutuários, usuários, dos recursos que o Pai nos concede a cada encarnação para nos melhorarmos.


Riqueza e pobreza devem ser encaradas como etapas para nossa evolução. E nós estamos, neste momento do planeta, sendo chamados pela justiça divina para prestar um testemunho individual, onde é preciso tomar consciência de nossas quedas e daí pavimentar um caminho mais seguro e consistente.


Muitas criaturas dotadas de grandes potencialidades intelectuais e posses materiais vivem apenas buscando prazeres materiais, deixando que seus talentos tragam benefícios apenas para si e deixam de lado outras criaturas em sofrimento e desamparo, ou seja, elas distorcem os ideais de auxílio e crescimento conjunto e transformam suas vidas em um eterno acumular de recursos monetários, prazeres materiais e gozos sexuais, num mundo marcado pela pobreza moral e pela indigência espiritual.


E quando desencarnam e se deparam com os equívocos, sofrem muitíssimo; aí retornam à matéria em situações degradantes, alguns em regiões pobres e miseráveis, outros sem a capacidade intelectual que anteriormente os caracterizavam. Costumam ter encarnações de expiação e quando desencarnam novamente, socorridos pelos bons espíritos, voltam para o mundo espiritual de uma forma mais consciente. Estas criaturas evoluíram e estão em franco progresso espiritual.


Outros não. Desencarnam, ficam na reclamação e na obsessão pelos bens que acumularam, voltam a reencarnar muitas vezes como miseráveis, em regiões de muita pobreza e sofrimento, só reclamam, não aprendem, sucumbem ao desânimo e a desesperança, se revoltam contra as leis divinas e postergam seu progresso espiritual.


Num mundo centrado nas aparências materiais, a prova da riqueza nos parece mais interessante. Ter recursos financeiros pode apresentar vantagens aparentes, mas ao mesmo tempo, pode nos afastar dos verdadeiros ideais da espiritualidade maior e comprometer ainda mais nossa realidade espiritual. Entendamos verdadeiramente os pressupostos da vida e compreendamos que, onde estivermos, devemos valorizar as coisas simples e verdadeiras da vida.


As leis de Deus são eternas e verdadeiras, estamos encarnados no melhor local para nossa evolução, nascemos na família correta e com as características e habilidades necessárias para nosso crescimento espiritual, quando nos rebelamos diante das dificuldades da vida e bradamos contra a justiça divina estamos cometendo um sério equívoco.


Superar as adversidades e construir um futuro melhor é fundamental para nosso crescimento espiritual, tendo a consciência de que Deus está sempre conosco. Nós, na maioria das vezes, é que nos equivocamos e escolhemos atalhos que nos causam constrangimentos futuros, muitos destes constrangimentos nos acompanham durante muitos anos ou séculos, gerando dores violentas, mágoas intensas e severos ressentimentos.


No livro Urgência, Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, tem uma mensagem educativa sobre a questão do dinheiro. Ele diz para examinarmos em que se transforma o dinheiro nas nossas mãos, a fim de que possamos ajuizar quanto ao proveito dos recursos passageiros que o Senhor te empresta à vida.


Não é dinheiro que nos impõem prejuízos ao coração, mas sim o sentimento que nós damos ao dinheiro que nos vale como instrumento para mergulhar a existência na sombra do tédio ou da enfermidade, do remorso ou da indisciplina.


Repara o que fazes e aprende a dirigir o dinheiro para que o dinheiro não te dirija. - Chico Xavier por Emmanuel

Com algum dinheiro que temos, às vezes parado, sem utilização, podemos realmente ajudar na alegria e no socorro de muitos. O alimento a uma família necessitada, a oportunidade de estudo para quem não tem condições financeiras, o remédio ao que está enfermo…


Muita gente mobiliza a posse transitória dos bens pelo curto período de alguns dias na aquisição de dor para muitos anos, por vezes até séculos. Porque se acumulamos a prata e o ouro, o dinheiro da Terra, para dominar e ferir, o que nós estamos fazendo verdadeiramente é nos escravizarmos a velhas paixões e a vícios anteriores,  ou seja, nós nos elevamos no mundo material pela convenção da moeda humana e caímos em abismos de dor pela transgressão das Leis Divinas.


O dinheiro dignamente conquistado, sobretudo produzido com o nosso próprio suor, guia os nossos movimentos no caminho do trabalho e da luz, da caridade e da educação. Desse modo o dinheiro deixa de ser o instrumento de tirania, de orgulho, de sovinice pelo apego material a que nós cedemos e passa então a ser o companheiro leal e o servo amigo a sustentar-nos os passos na direção do Reino de Deus.


Emmanuel no livro Diálogo dos Vivos, pela psicografia de Chico Xavier, tem uma frase que eu acho muito apropriada: Abençoa o dinheiro para que o dinheiro te abençoe. Claramente nós não temos no dinheiro a vida, como diz Emmanuel, mas o dinheiro em si mesmo é valioso sustentáculo do progresso, sobre o qual a vida se aperfeiçoa.


Não é o amor; entretanto, suscita a simpatia e o reconhecimento em que, muitas vezes, o amor aparece em fontes de luz. Não é a saúde; todavia, assegura o medicamento que combate a enfermidade. Não é a paz; contudo, é fator de equilíbrio, promovendo o trabalho ou extinguindo muitos dos débitos que atormentam o espírito. Não é a felicidade; no entanto, pode criar a felicidade a nosso favor, através do bem que é capaz de esparzir. - Chico Xavier por Emmanuel

O dinheiro é capaz de suprimir a dor, de enxugar lágrimas, de desfazer aflições, de espalhar reconforto, de semear esperanças, de realizar boas obras, de salvar vidas, de proporcionar educação, de evitar suicídios e crimes, de incentivar e manter as indústrias, de distribuir bençãos de alegrias…


Antes de censurar a fortuna e a riqueza, antes de condenar aqueles que são ricos, que tem fortunas, tente enxergar a dificuldade que enfrentam, as responsabilidades que contraíram para empregar bem o recurso material.


Na Terra, o dinheiro é uma alavanca que a Divina Providência nos coloca nas mãos; manejando-a, tanto se pode marginalizar o coração nas trevas quanto edificar o luminoso caminho para a Vida Maior. Dinheiro, em suma, vem de Deus, mas é forçoso reconhecer que a aplicação dele vem de nós.


Riqueza e Responsabilidade


Permitam-me transcrever um lindo e esclarecedor texto do espirito Irmão Saulo, pela psicografia de Chico Xavier, no livro Diálogo dos Vivos, para reflexão.


A condenação de Jesus aos ricos, tão clara no Evangelho de Lucas, não se refere à fortuna em si, mas ao apego à fortuna. Se Jesus considerasse o dinheiro como maldição não diria ao moço rico que o distribuísse aos pobres. A riqueza individual e familiar é uma forma de acumulação com vistas ao futuro da coletividade. Kardec examinou suficientemente esse problema e deixou evidente o papel social da riqueza. Mas justamente por isso ela se torna como dizem constantemente os espiritos, uma das provas mais perigosas para o espírito encarnado.


Podemos compará-la à saúde. O homem são e forte em geral se embriaga com a sua condição e se afasta dos problemas do espírito. Esquece o que é e que terão de voltar ao plano espiritual. A prova da saúde é tão perigosa como a da fortuna. Mas ambas têm por finalidade adestrar o espírito na luta com as ilusões, com as fascinações da vida. E nessa luta que o espírito desenvolve os seus poderes internos, a sua capacidade de superar a matéria, de dominá-la como o nadador domina a água.


A parábola do jovem rico põe a nu a situação do espírito diante da prova. O jovem queria a salvação e procurava seguir os preceitos da lei para atingi-la. Sua consciência o advertia de que ele não estava fazendo o necessário. Mas quando Jesus lhe disse que se libertasse dos seus bens e os revertesse em favor dos pobres, ele não teve coragem de fazê-lo. Vender as suas propriedades e distribuir o dinheiro aos necessitados não é apenas dar esmolas. A maior esmola é a que se faz em forma de auxílio e estímulo ao trabalho. As propriedades inúteis do jovem rico podiam ser transformadas em recursos de produção, beneficiando os pobres.


A acumulação da fortuna implica no dever do seu bom emprego em favor da coletividade.

Quem não a usa nesse sentido, mas apenas em benefício do seu orgulho e da sua vaidade pessoal, está colocando-se na situação do camelo que não pode passar pelo fundo da agulha. A vida terrena passa breve e o rico egoísta logo se verá diante da porta estreita do Reino sem poder franqueá-la. Quando os homens forem capazes de enfrentar a prova da riqueza para vencer o egoísmo, a miséria desaparecerá do mundo.


A porta do Reino de Deus é estreita, porque só as almas puras, aliviadas da carga da ambição e do orgulho, devem passar por ela. O rico egoísta, apegado aos seus haveres, não consegue entrar, pois não se dispõe a largar os seus fardos do lado de fora. Terá de voltar muitas vezes à Terra, aos reinos dos homens, para aprender que a riqueza material só o ajudará quando ele souber trocar as suas moedas de metal por atos de amor.


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1 Comment


Jeferson Souza
Jeferson Souza
Feb 27, 2024

Excelente abordagem Lara, muito esclarecedor. Obrigado pela oportunidade de aprender.

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