Dar do que se tem e não só do que se detém.
Será que esmola é só dar aquilo que esta sobrando em nossa vida?
Ao pesquisarmos no dicionário, esmola quer dizer: dádiva (oferta, presente) caridosa feita aos pobres, ato de auxiliar, de prestar ajuda, socorro.
Quem são os pobres?
Será que são somente aqueles que passam por dificuldade materiais? Que necessitam do alimento, do agasalho e do remédio?
Muitas das criaturas que não precisam de ajuda com recursos materiais, são pobres e até mesmo miseráveis de outras coisas. São necessitados de afeto, de entendimento, de valores morais, de simplicidade, de virtudes...
Jesus nos recomendou: "Dai antes esmola do que tiverdes." E a palavra do Mestre Nazareno está sempre estruturada em luminosa beleza que não podemos perder de vista. O tema esmola merece apontamentos especiais.
Lembremo-nos da passagem de Jesus sendo convidado a comer na casa de um fariseu. Jesus foi, e reclinou-se à mesa; mas o fariseu, notando que Jesus não se lavara cerimonialmente antes da refeição, ficou surpreso. Então o Senhor lhe disse:
"Vocês, fariseus, limpam o exterior do copo e do prato, mas interiormente estão cheios de ganância e da maldade. Insensatos! Quem fez o exterior não fez também o interior? Mas dêem o que está dentro do prato como esmola, e verão que tudo lhes ficará limpo. Ai de vocês, fariseus, porque dão a Deus o dízimo da hortelã, da arruda e de toda a sorte de hortaliças, mas desprezam a justiça e o amor de Deus! Vocês deviam praticar estas coisas, sem deixar de fazer aquelas. - Lucas 11: 39-42
Dar o que temos é diferente de dar o que detemos.
O espirito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, no livro Fonte Viva diz que A caridade é sublime em todos os aspectos sob os quais se nos revele e em circunstância alguma devemos esquecer a abnegação admirável daqueles que distribuem pão e agasalho, remédio e socorro para o corpo, aprendendo a solidariedade e ensinando-a.
E muita gente acha que caridade é realmente só o material. E só com o homem. Mas a caridade é muito mais…
Caridade é o amor que move a vontade à busca efetiva do bem do outro, ou seja, é o ato que nós fazemos que beneficia o próximo.
Caridade é o marido ou a esposa chegar em casa nervoso depois de um dia de trabalho, e você não piorar a situação discutindo porque ele chegou tarde ou porque ele está nervoso. A caridade é você trazer o necessário equilíbrio para a relação nos momentos difíceis.
Caridade é você escutar seu filho contar como foi o dia na escolinha, mesmo você tendo trabalhado o dia todo e estando exausto.
Caridade é você dar bom dia para um desconhecido na rua.
Caridade é você dar água e comida para um animal em situação de rua.
Caridade é você regar uma planta que está secando.
Caridade é você tolerar e conviver com as diferenças de pensamento.
A caridade deve ser exercida em cada ato que praticamos com todas as criaturas.
Dito isso, é preciso entender que a fortuna, a autoridade, o poder são bens que detemos provisoriamente durante a nossa caminhada na matéria. Fazem parte da vida, mas não nos pertencem. O Dono de todo o poder e de toda a riqueza no Universo, o dono de tudo o que existe é Deus, nosso Criador e Pai, que empresta recursos aos homens, segundo os méritos ou as necessidades de cada um.
Paulo, no Atos dos Apóstolos 17:27-28, nos diz: "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da terra e não habita em santuários feitos por mãos humanas.
Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas. De um só fez ele todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar. Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós.
'Pois nele vivemos, nos movemos e existimos', como disseram alguns dos poetas de vocês: 'Também somos descendência dele'.”
Não podemos, assim, esquecer das doações de nossa esfera íntima e, então, perguntar a nós mesmos, como nos orienta Emmanuel:
Que temos de nós próprios para dar?
Que espécie de emoção estamos comunicando aos outros?
Que reações provocamos no próximo?
Que distribuímos com os nossos companheiros de luta diária?
Qual é o estoque de nossos sentimentos?
Que tipo de vibrações espalhamos?
O que temos de nós mesmos para dar é aquilo que já conseguimos amealhar dentro de nós, ou seja: bondade, amor, alegria, entendimento, compreensão, amizade, lealdade, paz, valores morais e éticos… Essas coisas são as mais importantes e as únicas que podemos realmente dar de nós mesmos. Quando doamos os bens materiais, e devemos sim doá-los, estamos repartindo os recurso que Deus nos confiou. Recursos que não são nossos, mas ao compartilhá-los com aqueles que necessitam, estamos cumprindo o nosso dever.
O Espirito Isabel de França no Evangelho Segundo o Espiritismo no capitulo 11 nos esclarece, também: A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo.
Mas, quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará. - Mateus 6:3-4
Não dê esmolas fazendo alarde. Você não precisa auxiliar constrangendo quem está necessitado de auxilio. Nem dê esmola pedindo esclarecimentos indevidos, e, principalmente, não auxilie solicitando gratidão.
Emmanuel nos orienta: O aviso do Instrutor Divino nas anotações de Lucas significa: – dai esmola de vossa vida íntima, ajudai por vós mesmos, espalhai alegria e bom ânimo, oportunidade de crescimento e elevação com os vossos semelhantes, sede irmãos dedicados ao próximo, porque, em verdade, o amor que se irradia em bênçãos de felicidade e trabalho, paz e confiança, é sempre a dádiva maior de todas.
Caridade Moral
No Evangelho segundo o espiritismo, no capitulo XIII, há uma mensagem da Irmã Rosália, que nos fala sobre esse tipo de caridade:
A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.
Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra. Tende, porém, cuidado, principalmente em não tratar com desprezo o vosso semelhante. Lembrai-vos de tudo o que já vos tenho dito: Tende presente sempre que, repelindo um pobre, talvez repilais um Espírito que vos foi caro e que, no momento, se encontra em posição inferior à vossa. Encontrei aqui um dos pobres da Terra, a quem, por felicidade, eu pudera auxiliar algumas vezes, e ao qual, a meu turno, tenho agora de implorar auxílio.
É sempre reduzida a caridade que alimenta o estômago, mas que não esquece a ofensa, que não se dispõe a servir diretamente ou que não acende luz para a ignorância.
Dar esmola, praticar a caridade, só é possível, de modo mais amplo, se nos melhorarmos continuamente. Porque só podemos dar verdadeiramente o que temos dentro de nós.
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