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EXPIAÇÕES TERRESTRES

  • Foto do escritor: Lara
    Lara
  • 14 de ago.
  • 8 min de leitura

Reparando nossos erros.



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Nós habitamos um planeta de provas e expiações. Verdade que estamos em pleno processo de transição planetária para adentrarmos um período de regeneração.


Provas porque são as experiências necessárias ao nosso aprendizado e evolução. Expiações porque é necessário reparar os enganos, erros e crimes que cometemos, nesta ou em outras existências. Como nos diz Allan Kardec no livro O Céu e o Inferno: A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais, que são a consequência da falta cometida, seja desde a vida presente, seja, após a morte, na vida espiritual, seja numa nova existência corporal, até que os últimos traços da falta sejam apagados.


Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo, nos diz, no Código Penal da Vida Futura  - item 29: A misericórdia de Deus sem dúvida é infinita, mas não é cega. O culpado que ela perdoou não está dispensado de satisfazer a justiça, passando pelas consequências de suas faltas. Por misericórdia infinita é necessário entender que Deus não é inexorável, deixando sempre aberta ao culpado a porta de retorno ao bem.


Isso significa que a misericórdia divina, embora seja ilimitada, não anula a lei de causa e efeito. Ou seja, mesmo com o perdão de Deus, as consequências dos atos errados , dos enganos e dos crimes, ainda precisam ser enfrentadas por nós, e, principalmente, precisam ser corrigidas pela reparação.


A misericórdia divina não é forma de impunidade e nem mesmo de arrependimento vazio, porque o Pai vê a nossa intimidade, mesmo que queiramos esconder.


A misericórdia do Pai oferece a oportunidade de redenção, mas não isenta a pessoa do trabalho de reparar seus erros e aprender com eles.


Por isso Jesus e os espíritos superiores sempre dizem da importância da responsabilidade individual diante das próprias ações e suas consequências.


A provação é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual. A expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete um crime. - Chico Xavier por Emmanuel - livro O Consolador

Reparar é  trilha que todos percorremos, é a reabilitação de nós mesmos. A criatura humana só se reabilita após a passagem do Espírito em três patamares de situações bem distintas, constituídas pelo arrependimento, pela expiação e pela reparação. Essas são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas conseqüências.


A misericórdia de Deus, no entanto, permite que o espírito culpado suavize o processo de expiação com o arrependimento verdadeiro. Todavia, somente a reparação é capaz de anular o efeito do erro destruindo-lhe a causa. 


A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros numa existência, por fraqueza ou má-vontade, achar-se-á numa existência ulterior em contato com as mesmas pessoas que de si tiverem queixas, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes reconhecimento e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito. - Allan Kardec - livro O Céu e o Inferno

Nossa existência material em um mundo de provas e expiações, como é a Terra, exige de nós que sejamos como alunos em uma escola.


Aqui, quando utilizamos a vestimenta da carne, temos a benção do esquecimento de nossos erros passados. Só assim é possível avançar, caso contrário, a lembrança de nossos equívocos, por muitas vezes enormes, nos causaria tamanha culpa e remorso que seria extremamente difícil prosseguir e evoluir.


O Pai, em sua misericórdia infinita, nos permite o esquecimento temporário de nossos clamorosos erros, para que possamos recomeçar e aprender. Por isso, quando aqui estamos encarnados, o mundo material funciona como bendita escola de aprendizado e aprimoramento moral, emocional, intelectual e espiritual. Somos então matriculados na classe que nos trará melhor oportunidade de aprendizado.


Mas precisamos ter em mente que quando estamos matriculados nesta escola de evolução, também devemos nos lembrar do dever com os compromissos assumidos no tribunal de nossa própria consciência. Ao empreendermos a luta pela aquisição de conhecimento, carregamos também o fardo de nossas dívidas e enganos que precisamos ressarcir.


É o regate necessário de nossos erros.


Este é um caminho que todos nós percorremos e percorreremos até aprendermos as lições do Evangelho de Amor do Cristo e repararmos todo o mal ou prejuízo que causamos aos outros e a nós mesmos.


Emmanuel, no livro Justiça divina, pela psicografia de Chico Xavier, via nos dizer que: Todas as contas a resgatar pedem relação direta entre credores e devedores. É por isso que te vês, frequentemente, na Terra, diante daqueles a quem deves algo.


É a ignorância das leis cósmicas de amor e evolução que regem todo o universo que nos aprisiona em nossas limitações. E todos nós temos limitações: dificuldade de amar, falta de disciplina, vaidade, orgulho, egoísmo...


Cabe, então, a nós mesmos, através das atividades de estudo nessa escola chamada Terra e nas experiências que vivenciamos, nos libertarmos da ignorância. Quando começamos a compreender essa verdade, damos o nosso primeiro passo para a evolução consciente, e neste ponto devemos ter como principal aliada em nossa jornada de crescimento a disciplina.


Sem vontade e disciplina para empreender a busca consciente pelo conhecimento e pelo nosso melhoramento, ficaremos acorrentados em celas de provas, como a cumprir sentenças severas, muitas vezes pedidas por nós mesmos, antes de reencarnamos mais uma vez, para que possamos resgatar e corrigir nossos equívocos. Nossa consciência nos cobra constantemente a reparação de nossos erros.


Com esse entendimento da realidade, devemos utilizar a tolerância e a paciência ante os males e aflições que nos atingem durante a vida, pois é através deles que esgotamos a sombra de nossos erros passados que nos embaraçam a existência até hoje. O Pai, através de suas leis perfeitas, nos observa todo o tempo, avaliando o nosso esforço e aproveitamento ante as dificuldades enfrentadas.


Problemas que resolvemos por nós representam quotas de esforço pacifico, pelas quais adquirimos os benefícios do educandário em que nos aprimoramos para o futuro; entretanto, os problemas que nos pesam nos ombros, todos os dias, e que só o tempo consegue solucionar, constituem o preço de nossa libertação.  - Chico Xavier pelo Espírito André Luiz

Em meio a tantos aprendizados que a escola terrestre nos oferece como o sofrimento, a miséria, as enfermidades, a injustiça, as guerras, os conflitos familiares, as desilusões, devemos amar, suportar, perdoar, servir e auxiliar sempre.


Reparar os nossos erros, sem nos revoltarmos ou rebelarmos, é condição essencial para a nossa libertação.


Um caso para reflexão


Deixo aqui, transcrito, texto que se encontra no livro O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo, no  Capítulo VIII - Exemplo 14


JOSEPH MAÎTRE, cego.


— Pertencia à classe mediana da sociedade e gozava de modesta abastança, ao abrigo de quaisquer privações. Os pais o destinavam à indústria e deram-lhe boa educação, porém, aos vinte anos, ele perdia a visão. Com perto de cinquenta veio finalmente a falecer, isto em 1845. Dez anos antes, fora acometido por outra enfermidade que o deixou surdo, de modo que só pelo tato mantinha relações com os vivos. 


Ora, não ver, já é suplício; não ver e não ouvir é duplicado suplício, principalmente para quem depois de fruir as faculdades de tais sentidos tiver de suportar essa dupla privação. 


Qual a causa, de sorte tão cruel? Certo não era a sua última existência, sempre moldada numa conduta exemplar. Assim é que sempre foi bom filho, possuidor de caráter meigo e benévolo, e, quando por cúmulo de infelicidade se viu privado da audição, aceitou resignado, sem um queixume, esta prova. Pela sua conversação, pressentia-se na lucidez do seu Espírito uma inteligência pouco comum.


— Pessoa que o conhecera; na presunção de que poderia receber instruções úteis, evocou-lhe o Espírito e obteve a seguinte mensagem, em resposta às perguntas que lhe dirigira. (Paris — 1863.)


“Agradeço, meus amigos, o terdes lembrado de mim. Pode ser que tal se não desse independente da suposição de proveito da minha comunicação, mas, ainda assim, estou certo de que motivos sérios vos animam e eis porque com prazer atendo ao chamado, uma vez que, por feliz, me é permitido orientar-vos. Assim possa o meu exemplo avolumar as provas assaz numerosas que os Espíritos vos dão da justiça de Deus.


Cego e surdo me conhecestes, e para logo vos propusestes saber a causa de tal destino. Eu vo-lo digo: Antes de tudo, importa dizer que era a segunda vez que eu expiava a privação da vista. Na minha precedente existência, em princípios do último século, fiquei cego aos trinta anos, em decorrência de excessos de todo o gênero que, arruinando-me a saúde, me enfraqueceram o organismo. Note-se que era já isso uma punição por abuso dos dons providenciais de que fora largamente cumulado; ao invés, porém, de me atribuir a causa original dessa enfermidade, entendi de acusar a Providência, na qual, aliás, pouco cria.


Anatematizei Deus, reneguei-o, acusei-o, acrescentando que, se acaso existisse, devia ser injusto e mau, por deixar assim penar as criaturas. Entretanto, eu deveria dar-me ainda por feliz, isento como estava, de mendigar o pão, à feição de tantos outros míseros cegos como eu.


Mas é que eu só pensava em mim, na privação de gozos que me impunham. Influenciado por ideias tais, que o cepticismo mais exaltava, tornei-me frenético, exigente, numa palavra, insuportável aos que comigo privavam.


Além disso, a vida era-me um motocontínuo, pois que eu não pensava no futuro uma quimera.  Depois de esgotar baldamente os recursos da Ciência e reputada impossível a cura, resolvi antecipar a morte: suicidei-me.


Que despertar, então, que foi o meu, imerso nas mesmas trevas da vida! Contudo, não tardou muito o reconhecimento da minha situação, da minha transferência para o mundo espiritual. Era um Espírito, sim, porém, cego.


A vida de além-túmulo tornava-se-me, pois, a realidade! Procurei fugir-lhe, mas em vão… Envolvia-me o vácuo. Pelo que ouvia dizer, essa vida deveria ser eterna, e com ela a minha situação. Ideia horrenda! Eu não sofria, mas impossível é descrever as angústias e tormentos espirituais experimentados. Quanto teriam eles durado? Ignoro-o… Mas, quão longo me pareceu este tempo!


Extenuado, fatigado, pude finalmente analisar-me a mim mesmo, e compreendi o ascendente de um poder superior, que sobre mim atuava, e considerei que se essa potência podia oprimir-me, também poderia aliviar-me. E implorei piedade. 


À proporção que orava e o fervor se me aumentava, alguém me dizia que a minha situação teria um termo. Por fim se fez a luz e extremo foi o meu arroubo de alegria ao entrever as claridades celestes, distinguindo os Espíritos que me rodeavam, sorrindo benévolos, bem como os que, radiosos, flutuavam no Espaço. 


Ao querer seguir-lhes os passos, força invisível me reteve. Foi então que um deles me disse: “O Deus que negaste teve comiseração do teu arrependimento e permitiu-nos te déssemos a luz, mas tu só cedeste pelo sofrimento, pelo cansaço.


Se queres participar desta felicidade aqui fruída, forçoso é provares a sinceridade do teu arrependimento, as boas disposições, recomeçando a prova terrestre em condições que te predisponham às mesmas faltas, porque esta nova provação deverá ser mais rude que a outra.” Aceitei pressuroso, prometendo não mais falir.


Assim voltei à Terra nas condições que sabeis. Não me foi difícil compreender a situação, porque eu não era mau por índole; revoltara-me contra Deus, e Deus me puniu.


Reencarnei trazendo a fé inata, razão por que não murmurei; antes aceitei a dupla enfermidade, resignado, como expiação que era, oriunda da soberana justiça. 


O insulamento dos meus derradeiros anos nada tinha de desesperador, porquanto me bafejava a fé no futuro e na misericórdia de Deus. Demais, esse insulamento me foi proveitoso, porque durante a longa noite silenciosa a minha alma mais livremente se alçava ao Eterno, entrevendo o infinito pelo pensamento. Quando, por fim, terminou o exílio, o mundo espiritual só me proporcionou esplendores, inefáveis gozos.


O retrospecto ao passado faz que me julgue muito feliz, relativamente, pelo que dou graças a Deus; quando, porém, olho para o futuro, vejo a grande distância que ainda me separa da completa felicidade.


Tendo já expiado, ainda me faltava reparar. A última encarnação só a mim aproveitou, pelo que espero recomeçar brevemente por existência que me permita ser útil ao próximo, reparando por esse meio a inutilidade anterior. E só assim, me adiantarei na boa senda, sempre franqueada aos Espíritos possuídos de boa vontade.


“Amigos, eis aí a minha história; e se o meu exemplo puder esclarecer quaisquer dos meus irmãos encarnados, de modo a evitarem a má ação que pratiquei, terei por principiado o resgate da minha dívida.”


 
 
 

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