A advertência de Jesus

Todo mundo já escutou pelo menos uma vez na vida a expressão vigiai e orai, não é?
De onde surgiu isso?
Em Mateus 26:36-46, é narrado a passagem em que Jesus se retirou para orar depois da ceia: "Então Jesus foi com seus discípulos para um lugar chamado Getsêmani e lhes disse: "Sentem-se aqui enquanto vou ali orar". Levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: "A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo".Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: "Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres".Depois, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. "Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?", perguntou ele a Pedro.
"Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca."
Vigiar significa observar com atenção, estar atento.
Eu penso que os discípulos até queriam ficar despertos, mas eles caíram na tentação do sono. Porque eles estavam com os olhos pesados.
Mas o vigiar, no contexto espiritual, é mais que isso. Diz respeito à necessidade de nós tomarmos precauções para sustentarmos em nosso dia a dia o equilíbrio e a lucidez, para que nós percebamos os acontecimentos da vida além das aparências superficiais, para que nós percebamos a verdade.
E por que isso é importante? Porque enxergando realmente aquilo que acontece, nós podemos tomar decisões mais acertadas, mais conscientes.
Tentação é o impulso para a prática de alguma coisa censurável ou não recomendável, “impulso íntimo dirigido para o pecado, originado dos instintos inferiores ou da malignidade do tentador”. E pecado expressa-se por meio de uma “transgressão da lei, ou de um preceito religioso ou qualquer regra”.
Na realidade, a tentação, que é esse desejo mais intenso, sempre tem origem em nós, muito embora possa ser estimulado por algo fora de nós.
“Cada um é tentado exteriormente pela tentação que alimenta em si próprio.” - Chico Xavier pelo espírito André Luiz
O Espírito Emmanuel nos diz também no livro Caminho, Verdade e Vida: "Ser tentado é ouvir a malícia própria, é abrigar os inferiores alvitres de si mesmo, porquanto, ainda que o mal venha de fora, somente se concretiza e persevera se com ele afinizamos, na intimidade do coração."
Ou seja, quando damos ouvido aos desejos e anseios inferiores, abrigando-os dentro de nós, mantendo sintonia com eles, é aí que tropeçamos na invigilância.
Todo ser humano possuir anseios, desejos e necessidades.
Quando nós nos movemos na intenção de realizar esses anseios e necessidades, nós nos sentimos gratificados. Nós movemos a nossa vontade na intenção de conseguir a gratificação para as nossas diversas aspirações. E isso é o que nos impulsiona ao desenvolvimento pessoal, à superação de obstáculos, à obtenção de bem-estar.
Só que nem sempre nós conseguimos direcionar bem essa busca por realizar nossos desejos. Quando estamos em desequilíbrio, quando guardamos em nós emoções e sentimentos inferiores, quando deixamos o pensamento correr livre sem disciplina, quando fazemos aquilo que sabemos ser errado, que sabemos não ser justo… Toda vez que agimos assim, corremos o risco de cair na tentação por invigilância.
O que temos que vigiar então?
Vamos considerar que a evolução é uma lei criada por Deus. E quando nós estamos num planeta como o nosso, inferior, de provas e expiações, é que nós nos tornamos conscientes das necessidades das lutas que nós devemos empreender para nos libertamos do fardo pesado da ignorância em que nos encontramos.
Vamos considerar também que quando reencarnamos nós trazemos conosco a bagagem das experiencias que nós já vivemos e também trazemos, por intuição, a consciência das necessidades evolutivas que nós temos. E aí é que nós nos vemos diante das lutas contra os nossos instintos inferiores.
Como vamos entrar nessa luta então? Que armas vamos usar nesse combate?
A primeira arma necessária é a vigilância. Quem não aprendeu a vigiar, continua caindo nas mesmas tentações, nos mesmos erros.
Vigiar é a nossa primeira defesa na batalha que nós devemos travar conosco mesmo para que nós nos melhoremos: temos que nos policiar nas nossas experiências para que não caiamos diante das investidas do mal que deturpa, da ignorância que desestimula, da sombra que entristece.
É preciso vigiar os pensamentos, sentimentos, palavras e atos.
Vigiar o pensamento é a primeira coisa que nós temos que fazer. Vigiando o pensamento, os sentimentos tomam outro rumo, o falar fica mais equilibrado e os atos ficam pacificados pelo pensamento e sentimento mais saudável.
A vigilância é a força que constrói, nas almas, as boas tendências.
Chico Xavier, pelo espírito André Luiz, nos alerta da importância do pensamento em seu livro Ação e Reação: “imagine o pensamento, que é força viva e atuante, cuja velocidade supera a da luz; o pensamento emitido por nós volta inevitavelmente a nós mesmos, compelindo-nos a viver de maneira espontânea em sua onda de formas criadoras, que naturalmente se nos fixam no espírito quando alimentadas pelo combustível de nosso desejo ou da nossa atenção. Daí, a necessidade imperiosa de nos situarmos nos ideais mais nobres e nos propósitos mais puros da vida, porque energias atraem energias da mesma natureza, e, quando estacionários na viciação ou na sombra, as forças mentais que exteriorizamos retornam ao nosso espírito, reanimadas e intensificadas pelos elementos que com ela se harmonizam."
Fiquemos, então, atentos ao que está em nossa mente, em nossos pensamentos.
É um alerta valioso!
Razão e emoção
O “vigiai e orai” , que Jesus nos adverte, consiste em um alerta muito oportuno e que envolve a razão e a emoção de cada um de nós.
A razão porque é a faculdade de raciocinar, apreender, compreender, ponderar, julgar; é através desta faculdade de raciocinar que nós nos conscientizamos de nossas predisposições íntimas.
A emoção, porque é ela que nos ajuda a estabelecer, através da prece, uma sintonia mais intensa com Deus e com o plano espiritual superior, de modo a nos fortalecermos, moralmente, perante as dúvidas e os conflitos.
Vigiar e orar. A todo momento.
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